quarta-feira, 31 de agosto de 2011

PROFISSÃO DE FÉ, de Olavo Bilac - Poema/ questões objetivas/ gabarito

PROFISSÃO DE FÉ
Olavo Bilac

Invejo o ourives quando escrevo:
            Imito o amor
Com Ele, em ouro, o alto-relevo
            Faz de uma flor.

Imito-o. E, pois nemde Carrara
            A pedra firo:
O alvo cristal, a pedra rara,
            O ônix prefiro.

Por isso, corre, por servir-me,
            Sobre o papel
A pena, como em prata firme
            Corre o cinzel.

Corre; desenha, enfeita a imagem,
            A ideia veste:
Cinge-lhe ao corpo a ampla roupagem
            Azul-celeste.

Torce, aprimora, alteia, lima
            A frase; e enfim,
No verso de ouro engasta a rima,
            Como um rubim.

Quero que a estrofe cristalina,
            Dobrada ao jeito
Do ourives, saia da oficina
            Sem um defeito:

E que o lavor do verso, acaso,
            Por tão sutil,
Possa o lavor lembrar de um vaso
            De Bezerril.

E horas sem conta passo, mudo,
            O olhar atento,
A trabalhar, longe de tudo
            O pensamento.

Porque o escrever – tanta perícia,
            Tanta requer,
Que ofício tal... nem há notícia
            De outro qualquer.

Assim procedo. Minha pena
            Segue esta norma,
Por te servir, Deusa serena,
            Serena Forma!

01. O tema do poema é
a) a exaltação do lavor poético.
b) a valorização da profissão do ourives.
c) a inveja despertada por algumas profissões.
d) a vocação para trabalhos artísticos.

02. A linguagem utilizada no poema é
a) simples      b) apurada          c) informal          d) subjetiva

03. O eu lírico inveja o ourives devido
a) a forma como ele trabalha.
b) ao material com o qual ele trabalha.
c) ao valor do produto que ele produz.
d) a beleza das peças criadas por ele.

04. O sentimento de inveja que o ourives desperta no eu lírico o motiva a
a) difamá-lo em seus versos.
b) seguir-lhe o exemplo.
c) ignorá-lo em seus versos.
d) elogiá-lo no poema.

05. Revela a perfeição formal buscada pelo poeta os versos
a) “Cinge-lhe ao corpo a ampla roupagem
            Azul-celeste.”
b) “Que ofício tal... nem há notícia
            De outro qualquer.”
c) “Do ourives, saia da oficina
            Sem um defeito:”
d) “A pena, como em prata firme
            Corre o cinzel."

06. O poeta parnasiano tem a concepção de arte pela arte, distanciando-se da realidade. Percebemos esse distanciamento nos versos
a) “Porque o escrever – tanta perícia,
            Tanta requer,”
b) “Por te servir, Deusa serena,
            Serena Forma!”
c) “Por isso, corre, por servir-me,
            Sobre o papel”
d) “A trabalhar, longe de tudo
            O pensamento.”

Gabarito: 01. a 02. b 03. a 04. b 05. c 06. d

terça-feira, 30 de agosto de 2011

SE EU MORRESSE AMANHÃ, de Álvares de Azevedo - poema/ questões objetivas/ gabarito

SE EU MORRESSE AMANHÃ
Álvares de Azevedo

Se eu morresse amanhã, viria ao menos
Fechar meus olhos minha triste irmã;
Minha mãe de saudade morreria
Se eu morresse amanhã!

Quanta glória pressinto em meu futuro!
Que aurora de porvir e que manhã!
Eu perdera chorando essas coroas
Se eu morresse amanhã!

Que sol! Que céu azul! Que doce n”alva
Acorda a natureza mais louçã!
Não me batera tanto amor no peito
Se eu morresse amanhã!

Mas essa dor da vida que devora
A ânsia de glória, o dolorido afã...
A dor no peito emudecera ao menos
Se eu morresse amanhã!

01. “Se eu morresse amanhã, viria ao menos/ fechar meus olhos minha triste irmã”, a relação que existe entre os versos é de
a) causa              b) perda                 c) lealdade                     d) compensação

02. No verso “Minha mãe de saudade morreria” temos
a) um desejo do eu lírico.
b) uma previsão do eu lírico.
c) uma hipótese do eu lírico.
d) uma ordem do eu lírico.

03. “Se eu morresse amanhã”, o termo em destaque expressa
a) uma conseqüência      b) uma finalidade        c) uma condição      d) uma comparação

04. Segundo o poema, qual seria o benefício caso o eu lírico morresse amanhã?
a) a mãe também morreria.
b) a dor no peito cessaria.
c) a natureza acordaria graciosa.
d) a irmã se entristeceria.

05. De acordo com o eu lírico, seu futuro seria
a) promissor          b) desastroso           c) incerto                 d) seguro

06. A morte no poema representa para o eu lírico
a) punição             b) sacrifício                  c) alívio                  d) redenção             

 Gabarito: 01. d 02. b 03. c 04. b 05. a 06. c

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

CASA DE PENSÃO, de Aluísio Azevedo - fragmento/ questões objetivas/ gabarito

CASA DE PENSÃO
Aluísio Azevedo

     Amâncio fora muito mal-educado pelo pai, português antigo e austero, desses que confundem o respeito com o terror. Em pequeno levou muita bordoada; tinha um medo horroroso de Vasconcelos; fugia dele como de um inimigo, e ficava todo frio e a tremer quando lhe ouvia a voz ou lhe sentia os passos. Se caso algumas vezes se mostrava dócil e amoroso, era sempre por conveniência: habituou-se a fingir desde esse tempo.
     Sua mãe, D. Ângela, uma santa de cabelos brancos e rosto de moça, não raro se voltava contra o marido e apadrinhava o filho. Amâncio agarrava-se-lhe às saias, fora de si, sufocado de soluços.
     Aos sete anos entrou para a escola. Que horror!
     O mestre, um tal de Antônio Pires, homem grosseiro, bruto, de cabelo duro e olhos de touro, batia nas crianças por gosto, por hábito do ofício. Na aula só falava a berrar, como se dirigisse uma boiada. Tinha as mãos grossas, a voz áspera, a catadura selvagem; e, quando metia para dentro um pouco mais de vinho, ficava pior.
     Amâncio, já na corte, só de pensar no bruto, ainda sentia calafrios dos outros tempos, e com eles vagos desejos de vingança. Um malquerer doentio invadia-lhe o coração, sempre que se lembrava do mestre e do pai. Envolvia-os no mesmo ressentimento, no mesmo ódio surdo e inconfessável.
     Todos os pequenos da aula tinham birra ao Pires. Nele enxergavam o carrasco, o tirano, o inimigo e não o mestre; mas, visto que qualquer manifestação de antipatia redundava fatalmente em castigo, as pobres crianças fingiam-se satisfeitas, riam muito quando o beberrão dizia alguma chalaça, e afinal, coitadinhas! Iam-se habituando ao servilismo e à mentira.
     Os pais ignorantes, viciados pelos costumes bárbaros do Brasil, atrofiados pelo hábito de lidar com escravos, entendiam que aquele animal era o único professor capaz de “endireitar os filhos”.
     Elogiavam-lhe a rispidez, recomendavam-lhe sempre que “não passasse a mão na cabeça dos rapazes” e que, quando fosse preciso, “dobrasse por conta deles a dose de bolos”.
     Ângela, porém, não era dessa opinião: não podia admitir que seu querido filho, aquela criaturinha fraca, delicada, um mimo de inocência e de graça, um anjinho, que ela afagara com tanta ternura e com tanto amor, que ela podia dizer criada com seus beijos – fosse lá apanhar palmatoadas de um brutalhão daquela ordem! “Ora! Isso não tinha jeito!”
     Mas o Vasconcelos saltava-lhe logo em cima: Que deixasse lá o pequeno com o mestre!... Mais tarde ele havia de agradecer aquelas palmatoadas!
     Assim não sucedeu. Amâncio alimentou sempre contra Pies o mesmo ódio e a mesma repugnância.
(...)

01. A educação que Amâncio recebera do pai foi baseada
a) no respeito          b) no medo              c) no diálogo              d) no exemplo

02. É uma característica da personalidade de Amâncio conseqüente da educação recebida na infância
a) fingido               b) dócil                   c) amoroso                   d) mentiroso

03. A escola representou para Amâncio
a) a proteção contra a violência do pai.
b) uma experiência de vida diferente.
c) uma continuidade do tipo de educação recebida em casa.
d) uma oportunidade de aprender e de crescer saudavelmente.

04. Segundo as informações do trecho, as outras crianças da escola
a) apreciavam Antônio Pires.
b) implicavam com Amâncio.
c) eram antipáticas com o professor.
d) bajulavam Pires por temerem os castigos.

05. Na frase “não passasse a mão pela cabeça dos rapazes”, o uso das aspas, no texto, indica
a) reprodução de uma citação
b) presença de gíria
c) crítica de uma opinião
d) introdução de um diálogo

06.  No trecho “...não raro se voltava contra o marido e apadrinhava o filho”, o termo em destaque tem sentido de
a) patrocinar         b) proteger             c) autorizar                 d) favorecer

07. Os pais, que colocavam os filhos na mesma escola que Amâncio estudava, tinham a opinião de que Antônio Pires
a) era um pouco rígido demais com seus filhos.
b) era um mestre afetuoso e flexível no tratar com as crianças.
c) era além de violento, despreparado para ensinar as crianças.
d) era um mestre competente e capaz de educar bem as crianças.

08. O narrador menciona os sentimentos semelhantes que Amâncio nutria pelo pai e pelo mestre. Os sentimentos expressos no trecho que se referem apenas ao mestre são
a) ódio surdo e medo.
b) medo e malquerer doentio.
c) repugnância e desejo de vingança.
d) ressentimento e ódio inconfessável.

09. Em alguns momentos, o narrador expressa juízos de valor em relação aos personagens e fatos. Podemos observar isso em
a) “Os pais ignorantes, viciados pelos costumes bárbaros do Brasil...”
b) “Na aula só falava a berrar como se dirigisse uma boiada.”
c) “Amâncio agarrava-se-lhe às saias, fora de si, sufocado de soluços.”
d) “Nele enxergavam o carrasco, o tirano, o inimigo e não o mestre;”

Gabarito: 01. b 02. a 03. c 04. d 05. a 06. b 07. d 08. c 09.a

domingo, 28 de agosto de 2011

GLÓRIA MORIBUNDA, de Álvares de Azevedo - fragmento do poema/ questões objetivas/ gabarito

GLÓRIA MORIBUNDA
Álvares de Azevedo

É uma visão medonha uma caveira?
Não tremas de pavor, ergue-a do lodo.
Foi a cabeça ardente de um poeta,
Outrora a sombra dos cabelos louros,
Quando o reflexo do viver fogoso
Ali dentro animava o pensamento,
Esta fronte era bela. Aqui nas faces
Formosa palidez cobria o rosto;
Nessas órbitas, - ocas, denegridas! –
Como era puro seu olhar sombrio!

Agora tudo é cinza. Resta apenas
A caveira que a alma em si aguardava,
Como a concha no mar encerra a pérola,
Como a caçoila a mirra incandescente.
Tu outrora talvez desses-lhe um beijo;
Por que repugnas levantá-la agora?
Olha-a comigo! Que espaçosa fronte!
Quanta vida ali dentro ferventava,
Como a seiva nos ramos do arvoredo!
E a sede em fogo das idéias vivas
Onde está? Onde foi? Essa alma errante
Que um dia no viver passou cantando,
Como canta na treva um vagabundo,

Perdeu-se acaso no sombrio vento,
Como noturna lâmpada apagou-se?
E a centelha da vida, o eletrismo
Que as fibras tremulantes agitava
Morreu para animar futuras vidas?

Sorris? Eu sou um louco. As utopias,
Os sonhos da ciência nada valem.
A vida é um escárnio sem sentido,
Comédia infame que ensangüenta o lodo.
(...)
Levanta-me do chão essa caveira!
Vou cantar-te uma página de vida
De uma alma que penou e já descansa.

01. O poema tem como tema
a) a vida de um poeta.
b) o medo da morte.
c) a vida e a morte.
d) os sonhos desfeitos.

02. O elemento morte é abordado no poeta pela figura
a) da concha do mar    b) de uma caveira    c) do lodo     d) do arvoredo

03. A visão de mundo apresentada no poema é
a) imparcial      b) cômica     c) indignada     d) pessimista

04. “Como era puro seu olhar sombrio!”, o verso expressa
a) uma comparação      b) uma pergunta      c) uma admiração     d) uma explicação

05. De acordo com os versos do poema
a) a caveira provoca medo e curiosidade.
b) a caveira pertencia a um vagabundo.
c) a caveira refletia o viver fogoso.
d) a caveira foi tudo o que restou do poeta.

Gabarito: 01. c 02. b 03. d 04. c  05. d



sábado, 27 de agosto de 2011

SEGREDOS, de Casimiro de Abreu - poema/ questões objetivas/ gabarito

SEGREDOS
Casimiro de Abreu

Eu tenho uns amores – quem é que os não tinha
Nos tempos antigos? – Amar não faz mal;
As almas que sentem paixão como a minha
Que digam, que falem em regra geral.
      - A flor dos meus sonhos é moça bonita
      Qual flor entr’aberta do dia ao raiar,
      Mas onde ela mora, que casa ela habita,
      Não quero, não posso, não devo contar!

Seu rosto é formoso, seu talhe elegante,
Seus lábios de rosa, a fala é de mel,
As tranças compridas, qual livre bacante,
O pé de criança, cintura de anel;
      - Os olhos rasgados são cor de safiras,
      Serenos e puros, azuis como o mar;
      Se falam sinceros, se pregam mentiras,
      Não quero, não posso, não devo contar!

Oh! ontem no baile com ela valsando
Senti as delícias dos anjos do céu!
Na dança ligeira qual silfo voando
Caiu-lhe do rosto seu cândido véu!
      - Que noite e que baile! –Seu hálito virgem
      Queimava-me as faces no louco valsar,
      As falas sentidas que os olhos falavam
      Não quero, não posso, não devo contar!

Depois indolente firmou-se em meu braço,
Fugimos das salas, do mundo talvez!
Inda era mais bela rendida ao cansaço
Morrendo de amores em tal languidez!
      - Que noite e que festa! E que lânguido rosto
      Banhado ao reflexo do branco luar!
      A neve do colo e as ondas dos seios
      Não quero, não posso, não devo contar!

A noite é sublime! – Tem longos queixumes,
Mistérios profundos que eu mesmo não sei;
Do mar os gemidos, do prado os perfumes,
De amor me mataram, de amor suspirei!
      - Agora eu vos juro... Palavra! – não minto!
      Ouvi-a formosa também suspirar;
      Os doces suspiros que os ecos ouviram
      Não quero, não posso, não devo contar!

Então nesse instante nas águas do rio
Passava uma barca, e o bom remador
Cantava na flauta: - “Nas noites d’estio
O céu tem estrelas, o mar tem amor!”
      - E a voz maviosa do bom gondoleiro
      Repete cantando: -“viver é amar!” –
      Se os peitos respondem à voz do barqueiro...
      Não quero, não posso, não devo contar!

Tremendo de medo... a boca emudece
Mas sentem-se os pulos do meu coração!
Seu seio nevado de amor se intumesce...
E os lábios se tocam no ardor da paixão!
      - Depois... mas já vejo que vós, meus senhores,
      Com fina malícia quereis me enganar.
      Aqui faço ponto; - segredos de amores
      Não quero, não posso, não devo contar!

01. “Eu tenho uns amores – quem é que os não tinha/ Nos tempos antigos? – Amar não faz mal;”, os versos que iniciam o poema assumem um tom de
a) humor            b) ironia               c) confissão             d) culpa

02. O verso repetido no poema “Não quero, não posso, não devo contar!”, sugere, por parte do eu-lírico
a) discrição       b) deboche               c) arrogância        d) indiferença

03. De acordo com os versos do poema, a amada do eu-lírico
a) mantinha com ele uma relação platônica.
b) é uma jovem ingênua e tímida diante dele.
c) é alguém inacessível e indiferente a ele.
d) é alguém que permitia liberdades ao eu-lírico.

04. O espaço escolhido para uma maior intimidade entre a amada e o eu-lírico foi
a) o baile            b) a natureza             c) uma barca         d) sua casa

05. “Aqui faço ponto; - segredos de amores”, o amor a qual o eu-lírico se refere nesse verso é
a) o amor fraternal
b) o amor incondicional
c) o amor sensual
d) o amor juvenil

06. Uma característica Romântica que se destaca no poema é
a) ânsia pelos espaços do sonho e do ideal.
b) expressão de sentimentos pessimistas .
c) as saudades da pátria e da infância.
d) a natureza participando da relação amorosa.

Gabarito: 01. c 02. a 03. d 04. b 05. c 06. d

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

I-JUCA PIRAMA - CANTO VIII, Gonçalves Dias - Poema/ questões objetivas/ gabarito

I-Juca Pirama – Canto VIII
Gonçalves Dias

Tu choraste em presença da morte?
Na presença de estranhos choraste?
Não descende o cobarde do forte;
Pois choraste, meu filho não és!
Possas tu, descendente maldito
De uma tribo de nobres guerreiros,
Implorando cruéis forasteiros,
Seres presa de vis Aimorés.

Possas tu, isolado na terra,
Sem arrimo e sem pátria vagando,
Rejeitado da morte na guerra,
Rejeitado dos homens na paz,
Ser das gentes o espectro execrado;
Não encontre amor nas mulheres,
Teus amigos, se amigo tiveres,
Tenham alma inconstante e falaz!

Não encontre doçura no dia,
Nem as cores da aurora te ameiguem,
E entre as larvas da noite sombria
Nunca possas descanso gozar:
Não encontres um tronco, uma pedra,
Posta ao sol, posta às chuvas e aos ventos,
Padecendo os maiores tormentos,
Onde possas a fronte pousar.

Que a teus passos a relva se torre;
Murchem prados, a flor desfaleça,
E o regato que límpido corre,
Mais te acenda o vesano furor;
Suas águas depressa se tornem,
Ao contacto dos lábios sedentos,
Lago impuro de vermes nojentos,
Donde fujas com asco e terror!

Sempre o céu, como um teto incendido,
Creste e punja teus membros malditos
E oceano de pó denegrido
Seja a terra ao ignavo tupi!
Miserável, faminto, sedento,
Manitôs lhe não falem nos sonhos,
E o horror os espectros medonhos
Traga sempre o cobarde após si.

Um amigo não tenhas piedoso
Que o teu corpo na terra embalsame,
Pondo em vaso d’argila cuidoso
Arco e frecha e tacape a teus pés!
Sê maldito, e sozinho na terra;
Pois que a tanta vileza chegaste,
Que em presença da morte choraste,
Tu, cobarde, meu filho não és.

01. O eu-lírico do poema dirige suas palavras
a) aos Aimorés         b) ao filho            c) ao leitor            d) aos tupis

02. No verso “Pois choraste, meu filho não és!”, o eu-lírico
a) renega o filho
b) amaldiçoa o filho
c) ignora o filho
d) engana o filho

03. O questionamento expresso nos dois primeiros versos expressa um sentimento de
a) impaciência         b) estranheza        c) desespero         d) ansiedade

04. Para o eu-lírico, o fato do filho ter chorado diante dos inimigos é um motivo de
a) orgulho            b) tristeza             c) preocupação         d) vergonha

05. Pela leitura do poema pode-se afirmar que
a) O pai compreende a atitude do filho.
b) O filho justifica sua atitude diante das acusações.
c) A coragem é um atributo essencial para o eu-lírico.
d) O pai deseja que o filho se desculpe diante da tribo.

06. Dentre os infortúnios evocados pelo eu-lírico, há o desejo de que o filho viva privado de seu papel social. Esse desejo é expresso nos versos
a) “E entre as larvas da noite sombria
      Nunca possas descanso gozar:”
b) “Sempre o céu, como um teto incendido,
      Creste e punja teus membros malditos”
c) “Implorando cruéis forasteiros
     Seres presa de vis Aimorés”
d) “Possas tu, isolado na terra,
      Sem arrimo e sem pátria vagando”

07. Uma punição ao filho advinda da natureza é expressa no verso
a) “Não encontre amor nas mulheres”
b) “Um amigo não tenhas piedoso”
c) “Não encontre doçura no dia’
d) “Manitôs não falem nos sonhos,”

08. O último infortúnio evocado pelo pai para o filho é
a) não ter consolo nas suas crenças.
b) não ter água para matar a sua sede.
c) não poder desfrutar do descanso noturno.
d) não ter os rituais realizados depois da morte.

Gabarito: 01. b 02. a 03. b 04. d 05. c 06. d 07. c 08. d


quinta-feira, 25 de agosto de 2011

O CORTIÇO, de Aluísio Azevedo - Trecho/ questões/ gabarito

O CORTIÇO
Aluísio Azevedo

(...)
     Algumas lavadeiras enchiam já as suas tinas; outras estendiam nos coradouros a roupa que ficara de molho. Principiava o trabalho. Rompiam das gargantas os fados portugueses e as modinhas brasileiras. Um carroção de lixo entrou com grande barulho de rodas na pedra, seguido de uma algazarra medonha algaraviada pelo carroceiro contra o burro.
     E, durante muito tempo, fez-se um vaivém de mercadores. Apareceram os tabuleiros de carne fresca e outros de tripas e fatos de boi; só não vinham hortaliças, porque havia muitas hortas no cortiço. Vieram os ruidosos mascates, com as suas latas de quinquilharia, com as suas caixas de candeeiros e objetos de vidro e com seu fornecimento de caçarolas e chocolateiras, de folhas-de-flandres. Cada vendedor tinha o seu modo especial de apregoar, destacando-se o homem das sardinhas, com as cestas do peixe dependuras, à moda de balança, de um pau que ele trazia ao ombro. Nada mais foi preciso do que o seu primeiro guincho estridente e gutural para surgirem logo, como por encanto, uma enorme variedade de gatos, que vieram correndo acercar-se dele com grande familiaridade, roçando-se-lhe nas pernas arregaçadas e miando suplicantemente. O sardinheiro os afastava com o pé, enquanto vendia o seu peixe à porta das casinhas, mas os bichanos não desistiam e continuavam a implorar, arranhando os cestos que o homem cuidadosamente tapava mal servia ao freguês. Para ver-se livre por um instante dos importunos era necessário atirar para bem longe um punhado de sardinhas, sobre o qual se precipitava logo, aos pulos, o grupo de pedinchões.
     A primeira que se pôs a lavar foi a Leandra, por alcunha a “Machona”, portuguesa feroz, berradora, pulsos cabeludos e grossos, anca de animal do campo. Tinha duas filhas, uma casada e separada do marido, Ana das Dores, a quem só chamavam a “das Dores”, e a outra donzela ainda, a Nenen, e mais um filho, o Agostinho, menino levado dos diabos, que gritava tanto ou melhor que a mãe. A das Dores morava em sua casinha à parte, mas toda a família habitava no cortiço.
     Ninguém ali sabia ao certo se a Machona era viúva ou desquitada; os filhos não se pareciam uns com os outros. A das Dores, sim, afirmavam que fora casada e que largara o marido para meter-se com um homem do comércio; e que este, retirando-se para a terra e não querendo soltá-la ao desamparo, deixara o sócio em seu lugar. Teria vinte e cinco anos.
     Nenen dezessete. Espigada, franzina e forte, com uma proazinha de orgulho da sua virgindade, escapando como enguia por entre os dedos dos rapazes que a queriam sem ser para casar. Engomava bem e sabia fazer roupa branca de homem com muita perfeição.
     Ao lado da Leandra foi colocar-se à sua tina a Augusta Carne-Mole, brasileira, branca, mulher de Alexandre, um mulato de quarenta anos, soldado da polícia, pernóstico, de grande bigode preto, queixo sempre escanhoado e um luxo de calças brancas engomadas e botões limpos na farda, quando estava de serviço. Também tinham filhos, mas ainda pequenos, um dos quais, a Juju, vivia na cidade com a madrinha que se encarregava dela. Esta madrinha era uma cocote de trinta mil-réis para cima, a Léonie, com sobrado na cidade. Procedência francesa.
     Alexandre, em casa, à hora do descanso, nos seus chinelos, e na sua camisa desabotoada, era muito chão com os companheiros de estalagem, conversava, ria e brincava, mas envergando o uniforme, encerando o bigode e empunhando a sua chibata, com que tinha o costume de fustigar as calças de brim, ninguém mais lhe via os dentes e então a todos falava teso e por cima do ombro. A mulher, a quem ele só dava tu quando não estava fardado, era de uma honestidade proverbial no cortiço, honestidade sem mérito, porque vinha da indolência do seu temperamento e não do arbítrio do seu caráter.

01. A descrição do amanhecer no cortiço revela que
a) os animais não tinham acesso ao local.
b) o lugar era bastante tranqüilo nas primeiras horas do dia.
c) vendedores de hortaliças eram os primeiros a chegar ao local.
d) o barulho dos mercadores e o movimento eram grandes desde cedo.

02. Qual dos personagens citados no trecho era morador do cortiço?
a) das Dores       b) Léonie         c) Nenen              d) Juju

03. As sensações privilegiadas na descrição do amanhecer no cortiço são
a) tácteis e visuais
b) visuais e auditivas
c) auditivas e olfativas
d) olfativas e tácteis

04. “A primeira que se pôs a lavar foi a Leandra, por alcunha a ‘Machona’...”, o termo em destaque tem o sentido de
a) referência       b) vontade               c) implicância             d) apelido

05. O trecho informa que Alexandre
a) era casado com Leandra, uma portuguesa.
b) vivia com uma cocote num sobrado na cidade.
c) Era um sujeito muito pedante e elegante quando estava de serviço.
d) Estava sempre sorridente e cheio de camaradagem com as pessoas do cortiço.

06. “Para ver-se livre por um instante dos importunos era necessário atirar bem longe um punhado de sardinhas”, o termo em destaque se refere
a) aos gatos     b) aos mercadores         c) aos fregueses      d) aos mascates

07. “...arranhando os cestos que o homem cuidadosamente tapava mal servia ao freguês”, a palavra em destaque no trecho foi utilizado para expressar
a) modo           b) causa              c) lugar            d) tempo

Gabarito: 01. d 02. c 03. b 04. d 05. c 06. a 07. d

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

A CATEDRAL, de Alphonsus Guimaraens - Poema/ questões objetivas/ gabarito

A CATEDRAL
Alphonsus Guimaraens

Entre brumas, ao longe, surge a aurora.
O hialino orvalho aos poucos se evapora,
       Agoniza o arrebol.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Aparece, na paz do céu risonho,
       Toda branca de sol.

E o sino canta em lúgubres responsos:
       “Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!”

O astro glorioso segue a eterna estrada.
Uma áurea seta lhe cintila em cada
        Refulgente raio de luz.
A catedral ebúrnea do meu sonho,
Onde os meus olhos tão cansados ponho,
        Recebe a bênção de Jesus.

E o sino clama em lúgubres responsos:
       “Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!”

Por entre lírios e lilases desce
A tarde esquiva: amargurada prece
        Põe-se a lua a rezar.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Aparece, na paz do céu tristonho,
       Toda branca de luar.

E o sino chora em lúgubres responsos:
       “Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!”

O céu é todo trevas: o vento uiva.
Do relâmpago a cabeleira ruiva
        Vem açoitar o rosto meu.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Afunda-se no caos do céu medonho
        Como um astro que já morreu.

E o sino geme em lúgubres responsos:
      “Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!”

01. O poema tem como tema
a) o tédio que o transcorrer do dia provoca no poeta.
b) a angústia íntima do poeta contemplando a vida e os sonhos dissipados.
c) a tristeza de quem passa a vida cultivando ilusões e decepções.
d) o amor pela natureza e a busca pela salvação divina.

02. A característica simbolista da nebulosidade é expressa no verso
a) “E o sino canta em lúgubres responsos”
b) “A catedral ebúrnea do meu sonho”
c) “Entre brumas, ao longe, surge a aurora”
d) “Vem açoitar o rosto meu”

03. No verso “Põe-se a lua a rezar”,  temos
a) uma aliteração       b) uma elipse      c) um anacoluto     d) um hipérbato

04. O sentimento de religiosidade do eu-lírico é expresso em
a) “Agoniza o arrebol”
b) “Recebe a bênção de Jesus”
c) “O céu é todo trevas: o vento uiva”
d) “Refulgente raio de luz”

05. Há personificação no verso
a) “Aparece na paz do céu tristonho”
b) “Por entre lírios lilases desce”
c) “Onde meus olhos tão cansados ponho”
d) “O hialino orvalho se evapora”

06. Os dobres do sino a repetir “Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!” sugere
a) ansiedade        b) apatia             c) autocompaixão      d) amargura

07. Seguindo a sequência do poema, o sino canta, clama, chora e geme, a escolha dessas ações revela
a) uma gradação emocional
b) uma confusão mental
c) uma inquietação física
d) uma indecisão poética

08. A tensão no poema evolui até atingir uma ideia
a) de renascimento      b) de loucura     c) de desespero         d) de morte
         
Gabarito: 01. b 02. c  3. d  4. b 05. a 06. c 07. a 08.d

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Vozes d'África, de Castro Alves - Fragmento do poema/ questões/ gabarito

VOZES D’ÁFRICA
Castro Alves
(fragmentos)

Deus! Ó Deus! Onde estás que não respondes?
Em que mundo, em qu’estrela tu t’escondes
                   Embuçado nos céus?
Há dois mil anos te mandei meu grito,
Que embalde desde então corre o infinito...
                   Onde estás, Senhor Deus?

Qual Prometeu tu me amarraste um dia
Do deserto na rubra penedia
                   - Infinito: galé!...
Por abutre – me deste o sol candente,
E a terra de Suez – foi a corrente
                    Que me ligaste ao pé...
(...)

Cristo! Embalde morreste sobre um monte...
Teu sangue não lavou de minha fronte
                    A mancha original.
Ainda hoje são, por fado adverso,
Meus filhos – alimária do universo,
                    Eu – pasto universal...

Hoje em meu sangue a América se nutre
- Condor que transformara-se em abutre,
                    Ave da escravidão,
Ela juntou-se às mais... irmã traidora
Qual de José os vis irmãos outrora
                      Venderam seu irmão.

Basta, Senhor! De teu potente braço
Role através dos astros e do espaço
                     Perdão p’ra os crimes meus!...
Há dois mil anos... eu soluço um grito...
Escuta o brado meu lá no infinito,
                     Meu Deus! Senhor, meu Deus!!...

01. O fragmento desse poema de Castro Alves fala
a) da religiosidade do povo africano
b) da exploração do território africano
c) da escravidão do povo africano
d) da história do povo africano

02. O eu-lírico do poema é a África personificada. Nas duas primeiras estrofes do fragmento o interlocutor do eu-lírico é
a) Prometeu           b) Deus                 c) abutre                     d) Suez

03. No verso “Que embalde desde então corre o infinito...”, a palavra destacada tem o sentido de
a) inutilmente       b) rapidamente       c) lentamente             d) isoladamente

04. O grito dado “Há dois mil anos” pelo eu-lírico é em favor
a) de Cristo          b) de José                c) da América           d) dos seus filhos

 05. Ao mencionar o personagem mitológico Prometeu, o eu-lírico estabelece uma relação
a) de oposição      b) de afetividade       c) de semelhança        d) de animosidade
     
06. No verso “Condor que transformara-se em abutre”, temos a figura de linguagem
a) metáfora          b) antítese                  c) metonímia             d) catacrese

07. Quando se refere à América, o eu-lírico expressa
a) um elogio     b) um questionamento      c) uma lamentação      d) uma acusação

Gabarito: 01. c 02. b 03. a 04. d 05. c 06. b 07. d

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Leito de folhas Verdes, Gonçalves Dias - poema/questões/gabarito

LEITO DE FOLHAS VERDES
Gonçalves Dias

Por que tardas, Jatir, que tanto a custo
À voz do meu amor moves teus passos?
Da noite a viração, movendo as folhas,
Já nos cimos do bosque rumoreja.

Eu sob a copa da mangueira altiva
Nosso leito gentil cobri zelosa
Com mimoso tapiz de folhas brandas,
Onde o frouxo luar brinca entre flores.

Do tamarindo a flor abriu-se, há pouco,
Já solta o bogari mais doce aroma!
Como prece de amor, como estas preces,
No silêncio da noite o bosque exala.

Brilha a lua no céu, brilham estrelas,
Correm perfumes no correr da brisa,
A cujo influxo mágico respira-se
Um quebranto de amor, melhor que a vida!

A flor que desabrocha ao romper d’alva
Um só giro do sol, não mais, vegeta:
Eu sou aquela flor que espero ainda
Doce raio do sol que me dê vida.

Sejam vales ou montes, lago ou terra,
Onde quer que tu vás, ou dia ou noite,
Vai seguindo após ti meu pensamento;
Outro amor nunca tive; és meu, sou tua!

Meus olhos outros olhos nunca viram,
Não sentiram meus lábios outros lábios,
Nem outras mãos, Jatir, que não as tuas
A arazóia na cinta me apertaram.

Do tamarindo a flor jaz entreaberta,
Já solta o bogari mais doce aroma
Também meu coração, como estas flores,
 Melhor perfume ao pé da noite exala!

Não me escutas, Jatir! nem tardo acodes
À voz do meu amor, que em vão te chama!
Tupã! lá rompe o sol! Do leito inútil
A brisa da manhã sacuda as folhas!

01. A informação principal do texto é:
a) A certeza do eu-lírico a cerca do amor de Jatir e da brevidade de seu retorno.
b) A confirmação de que o amor do eu-lírico por Jatir vence distância e obstáculos.
c) O eu-lírico está a espera de seu amado sem qualquer esperança de sua chegada.
d) O retorno do amado é aguardado não só pela amada como também pela natureza.

02. Sugere que a natureza se prepara para a chegada de Jatir o verso
a) “Eu sob a copa da mangueira altiva”
b) “A arazóia na cinta me apertaram”
c) “Já solta o bogari mais doce aroma!”
d) “Um quebranto de amor, melhor que a vida!”

03. O eu-lírico do texto tem por interlocutor
a) o leitor               b) Jatir                 c) Tupã             d) a natureza

04. Revela o elemento tempo no poema o verso
a) “Onde o frouxo luar brinca entre flores”
b) “Sejam vales ou montes, lago ou terra.”
c) “A cujo influxo mágico respira-se”
d) “Correm perfumes no correr da brisa”

05. Nos versos “Eu sou aquela flor que espero ainda/ doce raio do sol que me dê vida”, temos
a) um eufemismo     b) uma hipérbole        c) uma metáfora        d) um pleonasmo

06. Uma das passagens do poema na qual fica claro que o eu-lírico trata-se de uma mulher é
a) “Nosso leito gentil cobri zelosa”
b) “À voz do meu amor moves teus passos?”
c) “Onde quer que tu vás, ou dia ou noite.”
d) “À voz do meu amor, que em vão te chama!”

07. Que referências no poema nos fazem concluir que o eu-lírico trata-se de uma moça indígena?
a) viração, bosque
b) leito, tamarindo
c) quebranto, brisa
d) arazóia, Tupã

08. No decorrer do poema, o eu-lírico  expressa um sentimento de
a) impaciência          b) decepção            c) expectativa           d) irritação

09. “Por que tardas, Jatir, que tanto a custo? À voz do meu amor moves teus passos?”, a expressão destacada da ideia de
a) causa               b) conseqüência           c) modo                     d) tempo


Gabarito: 01. d 02. c 03. b 04. a 05. c 06. a 07. d 08. c 09. d

Grata pela colaboração da amiga de todas as horas: Aline Parente

domingo, 21 de agosto de 2011

A Moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo - trecho/questões objetivas/ gabarito

A Moreninha
Joaquim Manuel de Macedo

    D. Carolina passou uma noite cheia de pena e de cuidados, porém já menos ciumenta e despeitada; a boa avó livrou-a desses tormentos. Na hora do chá, fazendo com habilidade e destreza cair a conversação sobre o estudante amado, dizendo:
     - Aquele interessante moço, Carolina, parece pagar-nos bem a amizade que lhe temos, não entendes assim?...
     - Minha avó...eu não sei.
     - Dize sempre, pensarás acaso de maneira diversa?...
     A menina hesitou um instante e depois respondeu:
     - Se ele pagasse bem, teria vindo domingo.
     - Eis uma injustiça, Carolina. Desde sábado à noite que Augusto está na cama, prostrado por uma enfermidade cruel.
     - Doente?! Exclamou a linda Moreninha, extremamente comovida. Doente?...em perigo?...
     - Graças a Deus, há dois dias ficou livre dele; hoje já pôde chegar à janela, assim me mandou dizer Filipe.
     - Oh! Pobre moço!... se não fosse isso, teria vindo ver-nos!...
     E, pois, todos os antigos sentimentos de ciúme e temor da inconstância do amante se trocaram por ansiosas inquietações a respeito de sua moléstia.
     No dia seguinte, ao amanhecer, a amorosa menina despertou, e buscando o toucador, há uma semana esquecido, dividiu seus cabelos nas duas costumadas belas tranças, que tanto gostava de fazer ondear pelas espáduas, vestiu o estimado vestido branco e correu para o rochedo.
     - Eu me alinhei, pensava ela, porque enfim... hoje é domingo e talvez... como ontem já pôde chegar à janela, talvez consiga com algum esforço vir ver-me.
     E quando o sol começou a refletir seus raios sobre o liso espelho do mar, ela principiou também a cantar sua balada:
    “Eu tenho quinze anos
     E sou morena e linda”.
     Mas, como por encantamento, no instante mesmo em que ela dizia no seu canto:
     “Lá vem sua piroga
     Cortando leve os mares”
Um lindo batelão apareceu ao longe, voando com asa intumescida para a ilha.
     Com força e comoção desusadas bateu o coração de d. Carolina, que calou-se para empregar no batel que vinha atentas vistas, cheias de amor e de esperanças. Ah! Era o batel suspirado.
     Quando o ligeiro barquinho se aproximou suficientemente, a bela Moreninha distinguiu dentro dele Augusto; sentado junto a um respeitável ancião, a quem não pôde conhecer (...).
     (...)
     Augusto, com efeito, saltava nesse momento fora do batel, e depois deu a mão a seu pai para ajudá-lo a desembarcar; d. Carolina, que ainda não mostrava dar fé deles, prosseguiu seu canto até que quando dizia:
     “Quando há de ele correr
     Somente para me ver...”
Sentiu que Augusto corria para ela. Prazer imenso inundava a alma da menina, para que possa ser descrito; como todos prevêem, a balada foi nessa estrofe interrompida e d. Carolina, aceitando o braço do estudante, desceu do rochedo e foi cumprimentar o pai dele.
     Ambos os amantes compreenderam o que queria dizer a palidez de seus semblantes e os vestígios de um padecer de oito dias, guardaram silêncio e não tiveram uma palavra para pronunciar; tiveram só olhares para trocar e suspiros a verter. E para que mais?

01. D. Carolina estava atormentada pelo ciúme e despeito devido
a) as conversas que ela tinha com a avó.
b) ao não comparecimento de Augusto a sua casa.
c) as informações que Filipe deu sobre Augusto.
d) ao bom conceito que a avó tinha de Augusto.

02.A conversa entre d. Carolina e sua avó sobre o estudante amado pela jovem  foi
a) esclarecedora     b) desmotivante      c) entediante           d) animadora

03. O ciúme e o despeito de d.Carolina foi substituído
a) pela esperança e serenidade diante das informações dadas pela avó.
b) pelo alívio e tranqüilidade por causa do recado de Filipe.
c) pelas ansiosas inquietações a respeito da doença de Augusto.
d) pela culpa de ter julgado mal seu amado.

04. A menina voltou a arrumar-se pois
a) queria ir visitar o amado.
b) tinha esperança de ser visitada pelo amado.
c) recuperou-se do ciúme e do despeito.
d) foi aconselhada pela avó a cuidar-se.

05. “Com força e comoção desusadas bateu o coração de d. Carolina...”, o termo em destaque significa
a) enormes          b) constantes               c) incomuns                d) reais

06. O reencontro de d. Carolina e Augusto foi
a) cheio de declarações de amor.
b) cheio de questionamentos.
c) marcado pela indiferença e dúvidas.
d) marcado pela troca de olhares e suspiros.

Gabarito: 01. b 02. a 03. c 04. b 05. c 06. d