terça-feira, 14 de julho de 2020

O REFORMADOR DO MUNDO, de Monteiro Lobato

O REFORMADOR DO MUNDO

Monteiro Lobato

 

Américo Pisca-Pisca tinha o hábito de pôr defeito em todas as coisas. O mundo para ele estaria errado e a natureza só fazia asneira.

         — Asneira, Américo?

— Pois então? ... Aqui mesmo, neste pomar, você tem a prova disso. Ali está uma jabuticabeira enorme sustentando frutas pequeninas, e lá adiante vejo uma colossal abóbora, presa ao caule de uma planta rasteira. Não era lógico que fosse justamente o contrário? Se as coisas tivessem de ser reorganizadas por mim, eu trocaria as bolas, passando as jabuticabeiras para a aboboreira e as abóboras para a jabuticabeira. Não tenho razão?

         Assim discorrendo, Américo provou que tudo estava errado e só ele era capaz de dispor com inteligência o mundo.

Mas o melhor, concluiu, é não pensar nisto e tirar uma soneca à sombra destas árvores, não acha?

         E Pisca-Pisca, piscando que não acabava mais, estirou-se de papo para cima à sombra da jabuticabeira.

       Dormiu. Dormiu e sonhou. Sonhou com um mundo novo, reformado inteirinho pelas suas mãos. Uma beleza!

         De repente, no melhor da festa, plaft! Uma jabuticaba cai do galho e lhe acerta em cheio o nariz.

      Américo desperta de um pulo. Pisca-Pisca medita sobre o caso e reconhece, afinal, que o mundo não era tão mal feito assim. E segue para a casa refletindo:

        — Que coisa! ... Pois não é que se o mundo fosse arrumado por mim, a primeira vítima teria sido eu? Eu, Américo Pisca-Pisca, morto pela abóbora por mim posta no lugar da jabuticaba? Hum! Deixemo-nos de reformas. Fique tudo como está que está tudo muito bem.

       E Pisca-Pisca continuou a piscar pela vida à fora mas já sem a cisma de corrigir a natureza.

 

LOBATO, Monteiro. Fábulas. 50ª ed. São Paulo: Brasiliense, 2005. p. 257

 

1. O enredo do texto se desenvolve a partir da

a) convicção do personagem.

b) sonolência do personagem.

c) incerteza do personagem.

d) vaidade do personagem.

 

2. Américo comprovou sua ideia de que o mundo estava errado através

a) de uma citação.

b) de uma estatística.

c) de um exemplo.

d) de uma pesquisa.

 

3. A frase ”De repente, no melhor da festa, plaft”, apresenta

a) uma elipse, supressão de um termo que pode ser facilmente subentendido pelo contexto linguístico ou pela situação.

b) um polissíndeto, termo que se aplica à coordenação de várias palavras, através da repetição de uma ou mais conjunções.

c) uma anáfora, repetição de uma palavra ou grupo de palavras no início de duas ou mais frases sucessivas, para enfatizar o termo repetido.

d) uma onomatopeia, formação de uma palavra a partir da reprodução aproximada, com os recursos de que a língua dispõe, de um som natural a ela associado.

 

4. Revela a obsessão de Américo pela ideia de reformar o mundo, o trecho

a) “Dormiu e sonhou.”

b) “Américo desperta de um pulo.”

c) “Sonhou com um mundo novo, reformado inteirinho pelas suas mãos.”

d) “Uma jabuticaba cai do galho e lhe acerta em cheio o nariz.”

 

5. A conclusão que Américo chegou depois de acordar com uma jabuticaba no nariz foi

a) de que a natureza tem sua sabedoria.

b) de que o mundo realmente estaria errado.

c) de que as abóboras estavam fora do lugar certo.

d) d que debaixo da jabuticabeira é um lugar perigoso.

 

GABARITO

1.A – 2.C – 3.D – 4.C – 5.A


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quinta-feira, 9 de julho de 2020

UM HOMEM DE CONSCIÊNCIA, de Monteiro Lobato

“Um homem de consciência"

                                                                            Monteiro Lobato

 

Chamava-se João Teodoro, só. O mais pacato e modesto dos homens. Honestíssimo e lealíssimo, com um defeito apenas: não dar o mínimo valor a si próprio. Para João Teodoro, a coisa de menos importância no mundo era João Teodoro.

Nunca fora nada na vida, nem admitia a hipótese de vir a ser alguma coisa. E por muito tempo não quis nem sequer o que todos ali queriam: mudar-se para terra melhor.

Mas João Teodoro acompanhava com aperto de coração o deperecimento visível de sua Itaoca.

         - Isto já foi muito melhor, dizia consigo. Já teve três médicos bem bons – agora só um e bem ruinzote. Já teve seis advogados e hoje mal dá serviço para um rábula ordinário como o Tenório. Nem circo de cavalinhos bate mais por aqui. A gente que presta se muda. Fica o restolho. Decididamente, a minha Itaoca está acabando…

João Teodoro entrou a incubar a ideia de também mudar-se, mas para isso necessitava dum fato qualquer que o convencesse de maneira absoluta de que Itaoca não tinha mesmo conserto ou arranjo possível.

 - É isso, deliberou lá por dentro. Quando eu verificar que tudo está perdido, que Itaoca não vale mais nada de nada de nada, então arrumo a trouxa e boto-me fora daqui.

Um dia aconteceu a grande novidade: a nomeação de João Teodoro para delegado. Nosso homem recebeu a notícia como se fosse uma porretada no crânio. Delegado, ele! Ele que não era nada, nunca fora nada, não queria ser nada, não se julgava capaz de nada…

Ser delegado numa cidadezinha daquelas é coisa seríssima. Não há cargo mais importante. É o homem que prende os outros, que solta, que manda dar sovas, que vai à capital falar com o governo. Uma coisa colossal ser delegado – e estava ele, João Teodoro, de-le-ga-do de Itaoca!…

João Teodoro caiu em meditação profunda. Passou a noite em claro, pensando e arrumando as malas. Pela madrugada, botou-as num burro, montou no seu cavalo magro e partiu.

 - Que é isso, João? Para onde se atira tão cedo, assim de armas e bagagens?

 - Vou-me embora, respondeu o retirante. Verifiquei que Itaoca chegou mesmo ao fim.

         - Mas, como? Agora que você está delegado?

 - Justamente por isso. Terra em que João Teodoro chega a delegado, eu não moro. Adeus.

E sumiu.”

MONTEIRO, Lobato. Cidades mortas. São Paulo: Brasiliense, s/d.

 

Vocabulário

Deperecimento – ato de deperecer, ir-se acabando, ir-se finando.

Rábula – forma depreciativa de se referir a advogado.

 

1. O conto de Monteiro Lobato inicia-se com a descrição do personagem principal, João Teodoro. De acordo com o narrador, João Teodoro

a) era alguém de caráter duvidoso.

b) era uma pessoa insensível e soberba.

c) era um homem que se considerava insignificante.

d) era um sujeito inconformista e atuante.

 

2. João Teodora não queria se mudar de Itaoca, pois

a) não queria ter o mesmo desejo que os outros.

b) muita gente que presta ainda estava na cidade.

c) não via nada de errado na cidade em que morava.

d) ainda acreditava que Itaoca podia ter conserto.

 

3. São argumentos apontados por João Teodoro que comprovam o deperecimento de Itaoca, exceto

a) a diminuição de médicos e advogados na cidade.

b) a cidade não ter um delegado.

c) a falta de circo e cavalinhos visitando a cidade.

d) a mudança das pessoas que prestam para outras cidades.

 

4. “João Teodoro entrou a incubar a ideia de também mudar-se”, o termo em destaque poderia ser substituído por

a) premeditar        

b) observar           

c) relembrar         

d) adaptar

 

5. Para João Teodoro, sua mudança de Itaoca aconteceria

a) a qualquer momento.

b) de forma nenhuma enquanto fosse vivo.

c) caso um fato o convencesse que tudo estava perdido.

d) caso o governo exigisse sua saída da cidade.

 

6. A nomeação de João Teodoro para delegado deixou-o

a) lisonjeado.         

b) envaidecido.      

c) indiferente.       

d) estarrecido.

 

7. O cargo de delegado de Itaoca para João Teodoro

a) era algo sem significância.

b) era algo muito desejado por todos.

c) tinha muitas atribuições importantes.

d) seria um cargo inferior à sua capacidade.

 

8. “- e estava ele, João Teodoro, de-le-ga-do de Itaoca!”, o recurso de separar em sílabas a palavra delegado expressa

a) espanto.          

b) impaciência.              

c) dúvida.            

d) alegria.

 

9. A partida de João Teodoro de Itaoca, após sua nomeação, foi

a) uma atitude impensada.

b) uma promessa cumprida.

c) um gesto de ousadia.

d) um ato de teimosia.

 

10. Para João Teodoro, ele não poderia ser delegado de Itaoca porque

a) não tinha competência para isso.

b) não foi avisado com antecedência.

c) não pretendia viver muito tempo na cidade.

d) não sabia lidar com armas.

 

GABARITO

1.C – 2.D – 3.B – 4.A – 5.C – 6.D – 7.C – 8.A – 9.B – 10.A

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sexta-feira, 3 de julho de 2020

CAVADOR DO INFINITO, de Cruz e Sousa


Cavador do Infinito
                                        Cruz e Sousa

Com a lâmpada do Sonho desce aflito
E sobe aos mundos mais imponderáveis,
Vai abafando as queixas implacáveis,
Da alma o profundo e soluçado grito.

Ânsias, Desejos, tudo a fogo, escrito
Sente, em redor, nos astros inefáveis.
Cava nas fundas eras insondáveis
O cavador do trágico Infinito.

E quanto mais pelo Infinito cava
mais o Infinito se transforma em lava
E o cavador se perde nas distâncias...

Alto levanta a lâmpada do Sonho.
E como seu vulto pálido e tristonho
Cava os abismos das eternas ânsias!

Vocabulário:
1. imponderável: que não se pode pesar ou avaliar.
2. implacável: que não se pode aplacar; impossível de acalmar, atenuar ou aliviar
3. inefável: indescritível, encantador.
4. insondável: que não pode ser explicado; incompreensível, cujo fundo e/ou limite não se consegue encontrar.

1. A partir da leitura do poema e do seu título, podemos inferir que o texto se refere a
a) uma queixa          b) uma busca           c) um medo             d) um pedido

2. A ação de cavar no poema é sugerida pelos verbos
a) descer e subir     b) abafar e sentir    c) transformar e perder     d) levantar e sentir

3. Para cavar o infinito o eu lírico utiliza como instrumento a lâmpada do Sonho. Que significação poderia ter essa metáfora utilizada pelo poeta?
a) O sonho é a luz que ilumina o caminho que o eu lírico segue para alcançar seu objetivo.
b) Através do sonho é revelado ao eu lírico tudo que ele busca saber.
c) A lâmpada do sonho é o que dá sorte ao poeta para alcançar o infinito.
d) O sonho é algo que ilumina o infinito.

4. A partir da leitura do poema, podemos inferir que o infinito que o eu lírico cava seria
a) o amor      b) a vida       c) o próprio eu        d) a morte

5. O simbolista opõe-se aos limites do mundo físico e aprecia a integração com o cosmo, transcendendo o mundo real, constata-se isso nos versos
a) Vai abafando as queixas implacáveis
    Da alma o profundo e soluçado grito
b) E com seu vulto pálido e tristonho
    Cava os abismos das eternas ânsias!
c) E quanto mais pelo Infinito cava
    Mais o infinito se transforma em lava
d) Ânsias, Desejos, tudo a fogo escrito
    Sente, em redor, nos astros inefáveis

6. O termo infinito sugere imensidão, algo muito grande, que não possui limites, algo incalculável. No poema, aparecem as expressões abaixo que remetem ao infinito, exceto

a) mundos mais imponderáveis     b) eras insondáveis      c) os abismos       d) vulto pálido

7. O pessimismo é uma das características das poesias simbolistas. No poema podemos perceber essa característica pela escolha de determinadas palavras como
a) sonho, alma, mundo.
b) desejos, fogo, infinito.
c) aflito, queixas, trágico.
d) abismo, lâmpada, lava.


GABARITO
1.B - 2.A - 3.A - 4.C - 5.D - 6.D - 7.C

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ACROBATA DA DOR, Cruz e Sousa


ACROBATA DA DOR
(Cruz e Sousa)

1 Gargalha, ri, num riso de tormenta,
2 Como um palhaço, que desengonçado,
3 Nervoso, ri, num riso absurdo, inflado
4 De uma ironia e de uma dor violenta

5 Da gargalhada atroz, sanguinolenta,
6 Agita os guizos e convulsionado
7 Salta, gavroche, salta, clown, varado
8 Pelo estertor dessa agonia lenta...

9 Pedem-te bis e um bis não se despreza!
10 Vamos! retesa os músculos, retesa
11 Nessas macabras piruetas d`aço...

12 E embora caias sobre o chão, fremente
13 Afogado em teu sangue estuoso e quente
14 Ri,! Coração, tristíssimo palhaço.

Vocabulário:
Inflado (verso 3) - soberbo, orgulhoso (sentido figurado).
atroz (verso 5) - sem piedade, desumano, cruel.
guizos (verso 6) - Pequena esfera oca de metal que ressoa quando se agita com as bolinhas que contém no seu interior.
convulsionado (verso 6) - em convulsão, agitado.
gavroche (verso 7) - do francês, os garotos de Paris, no sentido conotativo, significa artista.
clown (verso 7) - do inglês, palhaço.
varado (verso 7) - do verbo varar, perfurado, atravessado.
estertor (verso 8) - respiração rouca típica dos moribundos.
retesa (verso 10) - tornar-se teso, tornar-se duro, enrijar-se.
macabras (verso 11) - fúnebres, que lembram a morte.
fremente (verso 12) - sentido figurado: estremecido de alegria, vibrante, arrebatado, entusiasmado.
estuoso (verso 13) - tempestuoso, agitado.

1. De acordo com o poema, quem seria o acrobata da dor? 
a) o leitor do poema.
b) o próprio eu lírico.
c) um palhaço.
d) o coração.

2. Ao fazer a comparação com o palhaço no segundo verso, o eu lírico sugere
a) que se deve mostrar alegria.
b) que se deve tentar alegrar os outros.
c) que se deve fazer ironias.
d) que se deve atormentar os outros.

3. São características atribuídas ao riso do palhaço, EXCETO
a) de tormenta
b) desengonçado
c) absurdo
d) inflado

4. A seleção vocabular do poeta exprime o tom de pessimismo e tristeza do poema. São termos que refletem isso, EXCETO 
a) tormenta, nervoso, dor.
b) atroz, sanguinolenta, convulsionado.
c) guizos, bis, aço.
d) macabras, sangue, violenta.

5. "Salta, gavroche, salta, clown, varado/ pelo estertor dessa agonia lenta...", as reticências nesses versos indica 
a) que a citação está incompleta.
b) a interrupção de um pensamento.
c) realce de uma palavra.
d) uma ação que se prolonga.

6. A presença de sinestesias (relação subjetiva que se estabelece entre uma percepção e outra, que pertence ao domínio de um sentido diferente) é uma característica simbolista que faz parte desse poema. No verso "afogado em teu sangue estuoso e quente", os sentidos que compõe essa sinestesia são 
a) audição e visão.
b) olfato e tato.
c) paladar e audição.
d) visão e tato.



GABARITO
1. D - 2.A - 3.B - 4.C - 5.B - 6.D

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quinta-feira, 2 de julho de 2020

TRISTE FIM DE POLICARPO QUARESMA, de Lima Barreto


TRISTE FIM DE POLICARPO QUARESMA (fragmento I)

A Lição de Violão

Como de hábito, Policarpo Quaresma, mais conhecido por Major Quaresma, bateu em casa às quatro e quinze da tarde. Havia mais de vinte anos que isso acontecia. Saindo do Arsenal de Guerra, onde era subsecretário, bongava pelas confeitarias algumas frutas, comprava um queijo, às vezes, e sempre o pão da padaria francesa.
Não gastava nesses passos nem mesmo uma hora, de forma que, às três e quarenta, por aí assim, tomava o bonde, sem erro de um minuto, ia pisar a soleira da porta de sua casa, numa rua afastada de São Januário, bem exatamente às quatro e quinze, como se fosse a aparição de um astro, um eclipse, enfim um fenômeno matematicamente determinado, previsto e predito.
A vizinhança já lhe conhecia os hábitos e tanto que, na casa do Capitão Cláudio, onde era costume jantar-se aí pelas quatro e meia, logo que o viam passar, a dona gritava à criada: "Alice, olha que são horas; o Major Quaresma já passou."
E era assim todos os dias, há quase trinta anos. Vivendo em casa própria e tendo outros rendimentos além do seu ordenado, o Major Quaresma podia levar um trem de vida superior aos seus recursos burocráticos, gozando, por parte da vizinhança, da consideração e respeito de homem abastado.
Não recebia ninguém, vivia num isolamento monacal, embora fosse cortês com os vizinhos que o julgavam esquisito e misantropo. Se não tinha amigos na redondeza, não tinha inimigos, e a única desafeição que merecera fora a do Doutor Segadas, um clínico afamado no lugar, que não podia admitir que Quaresma tivesse livros: "Se não era formado, para quê? Pedantismo!"
[...]

Vocabulário
bongar
- procurar, buscar.
um trem de - expressão popular com função de advérbio de intensidade.
abastado -que possui vários bens; que tem dinheiro em excesso; rico ou endinheirado.
monacal - de monge.
misantropo - solitário, que tem aversão à vida em sociedade.
pedantismo - modo de proceder de quem é pretensioso, de quem mostra qualidades superiores às que realmente possui.

01. Policarpo Quaresma é caracterizado como um homem metódico, ou seja, uma pessoa regrada e que costuma seguir uma rotina predefinida, alguém que faz as coisas de maneira ordenada, seguindo uma regularidade. São trechos do texto que nos revelam isso, EXCETO 
a) "Como de hábito, Policarpo Quaresma, mais conhecido por Major Quaresma, bateu em casa às quatro e quinze da tarde."
b) "...de forma que, às três e quarenta, por aí assim, tomava o bonde, sem erro de um minuto..."
c) "Se não tinha amigos na redondeza, não tinha inimigos, e a única desafeição que merecera fora a do Doutor Segadas..."
d) " Saindo do Arsenal de Guerra, onde era subsecretário, bongava pelas confeitarias algumas frutas, comprava um queijo, às vezes, e sempre o pão da padaria francesa."

02. No trecho, o narrador compara Quaresma com "a aparição de um astro, um eclipse", isso porque 
a) ele chamava atenção quando aparecia.
b) uma aparição sua era rara.
c) sua aparição acontecia de tempos em tempos.
d) sua aparição podia ser previsível.

03. "Alice, olha que são horas; o Major Quaresma já passou". A fala da personagem revela
a) as pessoas da vizinhança usavam a rotina de Quaresma como referência de horas.
b) que a vizinhança gostava de fazer fofoca sobre a vida de Quaresma.
c) que Quaresma tinha fama de não ser pontual.
d) que Quaresma passou antes da hora esperada.

04. De acordo com o trecho, o Major quaresma era 
a) uma pessoa que esbanjava dinheiro por ter outros rendimentos além do ordenado.
b) considerado e respeitado pelos vizinhos por ser um homem abastado.
c) uma pessoa preocupada em aumentar suas posses para ter a consideração dos vizinhos.
d) considerado e respeitado pelos vizinhos por ser alguém muito cortês.

05. O trecho da obra apresenta indícios de preconceito por parte do doutor Segadas que não admitia que Quaresma se interessasse por livros já que não era formado. Que tipo de preconceito percebemos nessa situação
a) religioso
b) racial
c) de gênero
d) social

TRISTE FIM DE POLICARPO QUARESMA (fragmento II)
[...]
Logo aos dezoito anos quis fazer-se militar; mas a junta de saúde julgou-o incapaz. Desgostou-se, sofreu, mas não maldisse a Pátria. O ministério era liberal, ele se fez conservador e continuou mais do que nunca a amar a "terra que o viu nascer". Impossibilitado de evoluir-se sob os dourados do Exército, procurou a administração e dos seus ramos escolheu o militar.
Era onde estava bem. No meio de soldados, de canhões, de veteranos, de papelada inçada de quilos de pólvora, de nomes de fuzis e termos técnicos de artilharia, aspirava diariamente aquele hálito de guerra, de bravura, de vitória, de triunfo, que é bem o hálito da Pátria.
Durante os lazeres burocráticos, estudou, mas estudou a Pátria, nas suas riquezas naturais, na sua história, na sua geografia, na sua literatura e na sua política. Quaresma sabia as espécies de minerais, vegetais e animais, que o Brasil continha; sabia o valor do ouro, dos diamantes exportados por Minas, as guerras holandesas, as batalhas do Paraguai, as nascentes e o curso de todos os rios. Defendia com azedume e paixão a proeminência do Amazonas sobre todos os demais rios do mundo. Para isso ia até ao crime de amputar alguns quilômetros ao Nilo e era com este rival do "seu" rio que ele mais implicava. Ai de quem o citasse na sua frente! Em geral, calmo e delicado, o major ficava agitado e malcriado, quando se discutia a extensão do Amazonas em face da do Nilo.
Havia um ano a esta parte que se dedicava ao tupi-guarani. Todas as manhãs, antes que a "Aurora, com seus dedos rosados abrisse caminho ao louro Febo", ele se atracava até ao almoço com o Montoya, Arte y diccionario de la lengua guaraní ó más bien tupí, e estudava o jargão caboclo com afinco e paixão. Na repartição, os pequenos empregados, amanuenses e escreventes, tendo notícia desse estudo do idioma tupiniquim, deram não se sabe por que em chamá-lo - Ubirajara. Certa vez, o escrevente Azevedo, ao assinar o ponto, distraído, sem reparar quem lhe estava às costas, disse em tom chocarreiro: "Você já viu que hoje o Ubirajara está tardando?"
Quaresma era considerado no Arsenal: a sua idade, a sua ilustração, a modéstia e honestidade de seu viver impunham-no ao respeito de todos.
Sentindo que a alcunha lhe era dirigida, não perdeu a dignidade, não prorrompeu em doestos e insultos. Endireitou-se, concentrou o pince-nez, levantou o dedo indicador no ar e respondeu:
- Senhor Azevedo, não seja leviano. Não queira levar ao ridículo aqueles que trabalham em silêncio, para a grandeza e a emancipação da Pátria.
[...]

Vocabulário
inçada
- coberta por, cheia de.
jargão - linguagem restrita a determinado grupo profissional ou social; gíria.
afinco - obstinação; ação de fixar uma ideia no pensamento para tentar alcançá-la; perseverança.
amanuense - escrevente, copista.
chocarreiro - aquele que diz gracejos atrevidos.
alcunha – apelido.
prorromper - começar de maneira impetuosa (com ímpeto); irromper: cheio de raiva, prorrompeu em berros;
doestos - insultos, injúrias.
pince-nez - óculos sem haste.
leviano - que julga por antecipação ou sem refletir sobre o que diz.
emancipação - ação de ser ou de se tornar independente, livre; independência

06. Ao não ser admitido como militar, Quaresma 
a) revoltou-se contra as Forças Armadas.
b) amaldiçoou a Pátria.
c) entrou para a administração pública militar.
d) prometeu nunca mais amar a "terra que o viu nascer".

07. De acordo com o trecho, Quaresma se interessava por tudo que se relacionava a Pátria pois 
a) era um nacionalista que amava a Pátria.
b) pretendia dar um golpe no Ministério.
c) queria vingar-se por não ser militar.
d) não desistira de fazer parte do exército.

08. O grande interesse de Quaresma pelas coisas da Pátria fazia com que as pessoas 
a) o ridicularizassem.
b) o admirassem.
c) o questionassem.
d) o reprovassem.

09. Quaresma foi apelidado de Ubirajara pelos colegas da repartição pois 
a) parecia-se com um índio.
b) estudava o idioma tupiniquim.
c) gostava de um livro que tinha esse título.
d) era a tradução do seu nome em tupi.
Triste Fim de Policarpo Quaresma (fragmento III)

O trecho a seguir refere-se ao requerimento feito por Policarpo Quaresma ao governo nacional.

Policarpo Quaresma, cidadão brasileiro, funcionário público, certo de que a língua portuguesa é emprestada ao Brasil; certo também de que, por esse fato, o falar e o escrever em geral, sobretudo no campo das letras, se veem na humilhante contingência de sofrer continuamente censuras ásperas dos proprietários da língua; sabendo, além, que dentro do nosso país, os autores e os escritores, com especialidade os gramáticos, não se entendem no tocante à correção gramatical, vendo-se, diariamente, surgir azedas polêmicas entre os mais profundos estudiosos do nosso idioma – usando do direito que lhe confere a Constituição, vem pedir que o Congresso Nacional decrete o Tupi-Guarani como língua oficial e nacional do povo brasileiro.
O suplicante, deixando de parte os argumentos históricos que militam em favor de sua ideia, pede vênia para lembrar que a língua é a mais alta manifestação da inteligência de um povo, é a sua criação mais viva e original; e, portanto, a emancipação idiomática.
Demais, Senhores Congressistas, o Tupi-Guarani, língua originalíssima, aglutinante, é verdade, mas que o polissintetismo dá múltiplas feições de riqueza, é a única capaz de traduzir as nossas belezas, de pôr-nos em relação com a nossa natureza e adaptar-se perfeitamente aos nossos órgãos vocais e cerebrais, por ser criação de povos que aqui viveram e ainda vivem, portanto possuidores da organização fisiológica e psicológica para que tendemos, evitando-se dessa forma as estéreis controvérsias gramaticais, oriundas de uma difícil adaptação de uma língua de uma outra região à nossa organização cerebral e ao nosso aparelho vocal – controvérsias que tanto empecem o progresso da nossa cultura literária, científica e filosófica.
Seguro de que a sabedoria dos legisladores saberá encontrar meios para realizar semelhante medida e cônscio de que a Câmara e o Senado pesarão o seu alcance e utilidade.
P. e E. Deferimento.

Vocabulário
contingência
- possibilidade, probabilidade.
censuras - recriminações, repreensões.
vênia - permissão, consentimento.
emancipação - independência.
aglutinante - que junta, reúne, cola.
polissintetismo - Reunião de muitas partes em uma só.
controvérsias - Que pode ocasionar uma discussão; opiniões distintas acerca de uma ação.
empecer - ocasionar dano(s) ou prejuízo(s) a; prejudicar.
cônscio - que tem conhecimento; que sabe muito bem aquilo que faz; consciente, ciente.
pesar - Analisar com cuidado e atenção; ponderar.

10. Qual a solicitação feita por Policarpo quaresma em seu requerimento? 
a) que o governo acabe com a polêmica existente entre os estudiosos da língua nacional.
b) que o tupi-guarani seja decretada como língua oficial e nacional do povo brasileiro.
c) a proibição do uso da língua tupi-guarani pelos descendentes dos povos que viviam no Brasil no período da descoberta.
d) a proibição do uso da língua portuguesa pelos autores e escritores que não se entendem no tocante à correção gramatical.


GABARITO
01.C - 02.D - 03.A - 04.B - 05.D - 06.C - 07.A - 08.A - 09.B - 10.B

Caso deseje publicar a atividade produzida por mim em algum blog, favor adicionar um link, com meu nome e/ou do blog onde a atividade foi publicada originalmente. Já tive a desagradável surpresa de ver algumas atividades desse blog reproduzidas em outros sem qualquer referência.