quinta-feira, 9 de julho de 2020

UM HOMEM DE CONSCIÊNCIA, de Monteiro Lobato

“Um homem de consciência"

                                                                            Monteiro Lobato

 

Chamava-se João Teodoro, só. O mais pacato e modesto dos homens. Honestíssimo e lealíssimo, com um defeito apenas: não dar o mínimo valor a si próprio. Para João Teodoro, a coisa de menos importância no mundo era João Teodoro.

Nunca fora nada na vida, nem admitia a hipótese de vir a ser alguma coisa. E por muito tempo não quis nem sequer o que todos ali queriam: mudar-se para terra melhor.

Mas João Teodoro acompanhava com aperto de coração o deperecimento visível de sua Itaoca.

         - Isto já foi muito melhor, dizia consigo. Já teve três médicos bem bons – agora só um e bem ruinzote. Já teve seis advogados e hoje mal dá serviço para um rábula ordinário como o Tenório. Nem circo de cavalinhos bate mais por aqui. A gente que presta se muda. Fica o restolho. Decididamente, a minha Itaoca está acabando…

João Teodoro entrou a incubar a ideia de também mudar-se, mas para isso necessitava dum fato qualquer que o convencesse de maneira absoluta de que Itaoca não tinha mesmo conserto ou arranjo possível.

 - É isso, deliberou lá por dentro. Quando eu verificar que tudo está perdido, que Itaoca não vale mais nada de nada de nada, então arrumo a trouxa e boto-me fora daqui.

Um dia aconteceu a grande novidade: a nomeação de João Teodoro para delegado. Nosso homem recebeu a notícia como se fosse uma porretada no crânio. Delegado, ele! Ele que não era nada, nunca fora nada, não queria ser nada, não se julgava capaz de nada…

Ser delegado numa cidadezinha daquelas é coisa seríssima. Não há cargo mais importante. É o homem que prende os outros, que solta, que manda dar sovas, que vai à capital falar com o governo. Uma coisa colossal ser delegado – e estava ele, João Teodoro, de-le-ga-do de Itaoca!…

João Teodoro caiu em meditação profunda. Passou a noite em claro, pensando e arrumando as malas. Pela madrugada, botou-as num burro, montou no seu cavalo magro e partiu.

 - Que é isso, João? Para onde se atira tão cedo, assim de armas e bagagens?

 - Vou-me embora, respondeu o retirante. Verifiquei que Itaoca chegou mesmo ao fim.

         - Mas, como? Agora que você está delegado?

 - Justamente por isso. Terra em que João Teodoro chega a delegado, eu não moro. Adeus.

E sumiu.”

MONTEIRO, Lobato. Cidades mortas. São Paulo: Brasiliense, s/d.

 

Vocabulário

Deperecimento – ato de deperecer, ir-se acabando, ir-se finando.

Rábula – forma depreciativa de se referir a advogado.

 

1. O conto de Monteiro Lobato inicia-se com a descrição do personagem principal, João Teodoro. De acordo com o narrador, João Teodoro

a) era alguém de caráter duvidoso.

b) era uma pessoa insensível e soberba.

c) era um homem que se considerava insignificante.

d) era um sujeito inconformista e atuante.

 

2. João Teodora não queria se mudar de Itaoca, pois

a) não queria ter o mesmo desejo que os outros.

b) muita gente que presta ainda estava na cidade.

c) não via nada de errado na cidade em que morava.

d) ainda acreditava que Itaoca podia ter conserto.

 

3. São argumentos apontados por João Teodoro que comprovam o deperecimento de Itaoca, exceto

a) a diminuição de médicos e advogados na cidade.

b) a cidade não ter um delegado.

c) a falta de circo e cavalinhos visitando a cidade.

d) a mudança das pessoas que prestam para outras cidades.

 

4. “João Teodoro entrou a incubar a ideia de também mudar-se”, o termo em destaque poderia ser substituído por

a) premeditar        

b) observar           

c) relembrar         

d) adaptar

 

5. Para João Teodoro, sua mudança de Itaoca aconteceria

a) a qualquer momento.

b) de forma nenhuma enquanto fosse vivo.

c) caso um fato o convencesse que tudo estava perdido.

d) caso o governo exigisse sua saída da cidade.

 

6. A nomeação de João Teodoro para delegado deixou-o

a) lisonjeado.         

b) envaidecido.      

c) indiferente.       

d) estarrecido.

 

7. O cargo de delegado de Itaoca para João Teodoro

a) era algo sem significância.

b) era algo muito desejado por todos.

c) tinha muitas atribuições importantes.

d) seria um cargo inferior à sua capacidade.

 

8. “- e estava ele, João Teodoro, de-le-ga-do de Itaoca!”, o recurso de separar em sílabas a palavra delegado expressa

a) espanto.          

b) impaciência.              

c) dúvida.            

d) alegria.

 

9. A partida de João Teodoro de Itaoca, após sua nomeação, foi

a) uma atitude impensada.

b) uma promessa cumprida.

c) um gesto de ousadia.

d) um ato de teimosia.

 

10. Para João Teodoro, ele não poderia ser delegado de Itaoca porque

a) não tinha competência para isso.

b) não foi avisado com antecedência.

c) não pretendia viver muito tempo na cidade.

d) não sabia lidar com armas.

 

GABARITO

1.C – 2.D – 3.B – 4.A – 5.C – 6.D – 7.C – 8.A – 9.B – 10.A

 Caso deseje publicar a atividade produzida por mim em algum blog, favor adicionar um link, com meu nome e/ou do blog onde a atividade foi publicada originalmente. Já tive a desagradável surpresa de ver algumas atividades desse blog reproduzidas em outros sem qualquer referência.


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